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Teatro Thalia: erguido das cinzas 147 anos depois

  • Foto do escritor: Miguel Laia
    Miguel Laia
  • 2 de nov. de 2019
  • 2 min de leitura

Construído de frente para o Palácio das Laranjeiras, o Teatro Thalia foi um marco cultural na história da capital portuguesa, recebeu os mais importantes artistas oitocentistas e resistiu a um incêndio. Um século e meio depois foi reerguido.

Quando assumiu a pasta de ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, em 2005, Mariano Gago, do seu gabinete no Palácio das Laranjeiras, tinha vista direta para o Teatro Thalia, então em ruínas. O ministro tinha um profundo desgosto ao olhar para o que restava daquele edifício após o grande incêndio. Outrora, o Thalia fora um dos espaços culturais e sociais mais importantes da capital do século XIX.

Desejo do Conde Farrobo, um dos mais importantes e contemporâneos homens do século XIX, o Teatro Thalia foi construído, em 1820, nas Laranjeiras, em frente ao seu palácio. Amante da arte e da cultura, nomeadamente de ópera, o Conde tinha a esperança de que o Thalia se tornasse num espaço de encontro e partilha da grande elite cultural e social oitocentista. Pelo também conhecido como Teatro das Laranjeiras, passaram grandes nomes como Almeida Garrett, a rainha D. Maria II e o seu marido, o rei D. Fernando.

Quem fala do Conde Farrobo, lembra-o também como um grande patriota. Defensor do liberalismo e revoltado com a ascensão da monarquia absoluta de D. Miguel, o também II Barão de Quintela envolveu-se nas lutas entre liberais e miguelistas. Este envolvimento ditou a decadência do conde, em termos económicos e psicológicos.

A inovação do Teatro Thalia viria a estar na origem da sua destruição. Quando, em 1862, um incêndio causado pela iluminação a gás do edifício destruiu praticamente todo o teatro, o Conde já não tinha condições para o reerguer. Durante 147 anos, persistiram, nas Laranjeiras, as ruínas de um dos mais importantes espaços culturais da época.

Nestes quase 150 anos, o Teatro Thalia passou do domínio privado para o público. Em 2005, foi aberto concurso público, pelo ministro Mariano Gago, para a sua reconstrução. “O ministro Mariano Gago era, tal como o Conde Farrobo, um homem à frente do seu tempo”, conta Tânia Diniz, da Secretaria Geral de Educação e Ciência. O desejo do ministro era igual ao que tinha sido o do Conde Farrobo: fazer do Thalia um espaço de encontro comunitário para a sociedade.

Gonçalo Byrne, Diogo Lopes e Patrícia Barbas foram os arquitetos responsáveis pelo projeto que só terminou em 2012. A reconstrução do Teatro é hoje objeto de estudo e de interesse a nível arquitetónico para muitos turistas e estudantes de arquitetura internacionais. A pedra da antiga estrutura resistiu durante dois séculos e foi aproveitada pelos arquitetos na reconstrução. Já o recurso a materiais modernos permitiu erguer a estrutura que protege o que resta do teatro original. Agora, no Thalia, coexistem passado e presente: se o que restava dele foi inteiramente preservado pelos arquitetos, o uso de novos materiais e técnicas fazem dele uma obra contemporânea.

Atualmente, o Teatro Thalia recebe exposições, cerimónias, espetáculos e até o programa televisivo Fronteiras XXI da RTP3. O Thalia continua a cumprir a vontade do seu criador, o Conde Farrobo, e a do professor Mariano Gago: a de ser um centro cultural de referência.


Por Maria Rodrigues, Miguel Laia, Matilde Carvalho e Mariana Prudêncio

 
 
 

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